Em vista da crescente preocupação com a qualidade na construção civil, no que diz respeito às questões “segurança, conforto e durabilidade”, torna-se cada vez mais necessária a especialização e evolução de toda a cadeia que toma parte no seu processo.
Como prova disso, temos a última revisão da norma NBr 6118 – 2003, que deixou clara essa preocupação, uma vez que se tem notado cada vez mais um crescimento do número de obras com patologias de diversos tipos e origens. Basta fazer uma rápida análise, com obras recentes, executadas nos últimos 10 anos. Veremos que o número de obras que já apresentam algum tipo de patologia é assustador. Dentre as mais comuns pode-se destacar as famosas trincas e fissuras, que além das causas não estruturais - como por exemplo trincas por efeito da variação de temperatura ou retração devido à perda de água - têm tido cada vez mais origens em deficiências estruturais.
Com a redução da espessura das alvenarias e o aumento dos vãos a serem vencidos, visando cada vez mais se reduzir o peso e o custo da obra, temos também reduzido cada vez mais as dimensões das peças estruturais. Com isso temos estruturas cada vez mais esbeltas, e consequentemente mais deformáveis. Essas deformações excessivas são responsáveis por grande parte das trincas que aparecem nas edificações, por transferir cargas ou deformações para as alvenarias maiores do que elas podem suportar, gerando assim um grande desconforto para seus usuários.
Com relação às lajes treliçadas, gostaria de destacar algumas questões de fundamental importância para que se obtenham resultados satisfatórios e obras de qualidade.
A primeira delas é a já citada deformabilidade excessiva, que como já disse, tem se mostrado um dos principais problemas também nas lajes treliçadas. Como sabemos, essas lajes tem um grande potencial para vencer grandes vãos com cargas relativamente altas. O problema é que isso vem sendo utilizado de maneira abusiva, e sem nenhum critério, tanto por parte de alguns fabricantes, quanto por alguns “construtores”, que naquele momento só estão preocupados com a parte comercial, mesmo que isso lhes cause sérios problemas futuros. Visando minimizar os problemas, a nova norma nos indica uma limitação para os elementos estruturais que tiverem paredes sobre eles. Sua flecha não deve ultrapassar 1cm ou L/500, após a construção da parede.
Para que se trabalhe com segurança, o ideal é que se tenha um projeto estrutural, que caso não traga o dimensionamento das lajes, pelo menos indique ao fabricante exatamente as cargas que deverão ser consideradas no seu dimensionamento, separando-as em permanentes (peso próprio, revestimentos e eventuais alvenarias sobre lajes) e acidentais. Com certeza fica muito mais fácil para o fabricante trabalhar em conjunto com o calculista, mas mesmo assim sua fábrica deve estar preparada tecnicamente para dimensionar as lajes, contando com o suporte de um engenheiro responsável e baseando-se nas normas técnicas.
Caso a obra não possua projeto estrutural, o fabricante deve tomar ainda mais cuidado, para que ao dimensionar as lajes, informe exatamente ao engenheiro da obra quais as cargas consideradas e como sua laje deve trabalhar. O cliente que está adquirindo a laje deve saber exatamente para que ela foi calculada e como ela vai funcionar. As lajes treliçadas são uma ótima opção para que se tenha uma maior flexibilização do layout arquitetônico, conseguindo-se com sua utilização reduzir o consumo de concreto, peso próprio e otimizar a estrutura. Mas isso deve acontecer dentro de um esquema estrutural viável, definido-se tudo dentro de um contexto que englobe a estrutura como um todo (lajes, vigas e pilares), desde a fundação até a cobertura. É complicado fazer o cálculo de uma laje treliçada de uma obra que já está no ponto de se colocar a primeira laje, sem que se saiba como a estrutura que vai recebê-la está feita, e também sem saber como ela será daquele ponto em diante.
Por isso é essencial que para termos um produto de qualidade devemos ter todos os profissionais envolvidos trabalhando em conjunto: arquiteto, engenheiro da obra, engenheiro calculista (quando houver) e fabricante da laje. Com isso consegue-se minimizar erros e futuros problemas, garantindo a satisfação do cliente.
Nas próximas matérias destacaremos outras questões a respeito da qualidade nas fábricas de laje, dentro do atual panorama da construção civil.
Bom dia e bom trabalho a todos,
Engº Civil Otávio Araújo
Engetreli Engenharia