Com a constante evolução dos materiais de construção e sofisticação dos modelos de cálculo utilizados para análise de esforços e dimensionamento das estruturas, temos notado projetos arquitetônicos e obras cada vez mais arrojadas. Muitas vezes isso resulta em grandes vãos a serem vencidos, e altos carregamentos a serem suportados.
O uso das lajes treliçadas vem se mostrando bastante interessante para diversas situações. Além de suas facilidades e vantagens apresentadas por ser uma estrutura pré-moldada, têm um grande potencial no que diz respeito a suportar cargas altas, com vãos relativamente grandes. Apesar disso, devo alertar que para se aproveitar as qualidades e vantagens que o sistema treliçado oferece, é necessário que se tenha um bom conhecimento técnico não só do produto, como também das estruturas.
Tenho notado que uma das grandes dúvidas e confusões feitas pelos fabricantes de lajes treliçadas ocorre quando lhes aparecem casos em que se apresentam grandes esforços cortantes devido às cargas altas, ou cargas concentradas sobre a laje. Com isso, surge a necessidade de se armar as nervuras ao cisalhamento. O conhecimento técnico é fundamental nessa hora decisiva, e a falta dele pode inclusive levar o fabricante à “perder a venda”, pois ele acha que a única alternativa é a colocação de estribos adicionais nas vigotas, encarecendo bastante o produto final. Ou então simplesmente ignora essa necessidade de se armar ao cisalhamento, o que é ainda muito pior.
Essa é uma das situações que podemos tirar proveito da armação treliçada. Podemos utilizá-la como armadura de cisalhamento, eliminando assim os estribos e toda mão de obra e custo que seriam ocasionados pela colocação dos mesmos.
Para a correta utilização do sinusóide da treliça como armadura de cisalhamento, devemos fazer duas verificações:
- a primeira é garantir que a armadura diagonal (sinusóide) estará ligando o banzo comprimido ao tracionado. Ou seja, o banzo superior da treliça deve estar mergulhado na zona comprimida da laje, que geralmente fica logo abaixo da face superior da laje. Por isso, devemos ter a treliça com uma altura maior do que o elemento de enchimento, chegando até a face superior da laje menos o cobrimento da armadura. - a segunda é que a área da seção transversal da armadura da diagonal tracionada seja suficiente para resistir a esses esforços.
Há casos ainda que é necessário que se aumente a altura final da laje, o que mesmo assim compensa muito do ponto de vista técnico e comercial, pois além de uma laje menos deformável, ainda teremos um produto mais barato do que se tivermos que adicionar os estribos.
Com isso, concluímos que as treliças podem ter além de sua função de enrijecer as vigotas e ditar a distância entre as linhas de escora, um papel de armadura de cisalhamento, tirando-se com isso o máximo de proveito de seu uso.
Bom dia e bom trabalho a todos.
Engº Civil Otávio Araújo
Engetreli Engenharia